quinta-feira, 5 de março de 2009

Sapatos gastos


Respiro o ar que me sufoca, encontro do céu, do mar,

Da terra, do fogo e do ar.

Juntam-se os quatro elementos,

Numa esquina em meio a fios e a canteiros.

Alí, mais uma brasileira, que toca o couro do pandeiro.

Sambando pra ganhar a vida, abre a cortina da lida,

Respinga o suor, seu grito cinzento, nulo e com som abafado,

Requebra em sua quentinha, que tira de dentro da mochila,

Pedaços de sua história em meio a farelos de feijão,

Do nosso país descoberto por cada cidadão.

A sede então lhe abate, ao som de um liquidificador.

Que canta a roda da roda que gira, nas ruas eu sou você.

Hoje sou mais uma na multidão, que escorrega em pedras de sabão.

Tropeço em rastros de sangue que pintam a tela da minha visão.

Queria escrever seu nome, mostrar na TV aberta, retrato da decomposição.

Do nosso país descoberto por cada cidadão.

Alguém grita por socorro, o som que vem lá do beco, machuca minha audição.

Então eu abro a cartilha o gurí espalha a farinha sua mais pura lição.

E a nuvem escura se mostra, escondida atrás daquela porta querendo ser dona da razão.

Do traço do desempregado em busca de uma oração.

Eu de sapato gasto, mãos, pés e um caderno no braço, escrevo a minha redação.

Do país dos descalços e com gatilhos na mão.

Fatos dos noticiários que embaralham minha visão.

Retrato publicado em manchetes, que você finge ser ilusão.

Do nosso país descoberto por cada cidadão.


PS: Cansei de andar pelas ruas e ver tanta poluição visual e tanta gente sem visão!

É isso!


Marta Monaro

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